Jair Bolsonaro disse anteontem que o seu companheiro de chapa nestas eleições será "definido mais tarde". Foi uma espécie de cavalo de pau num tema em que ele próprio parecia já ter tomado uma decisão.
As dificuldades crescentes do presidente nas pesquisas, a alta taxa de rejeição e a forte pressão do Centrão mudaram uma decisão que Bolsonaro já havia tomado e comunicado aos mais próximos — ou seja, que Braga Netto seria o seu vice.
E hoje o nome de Tereza Cristina sobe como um foguete para ocupar essa posição — na conversa de anteontem com jornalistas, Bolsonaro inclusive citou o nome de sua ex-ministra.
Bolsonaro passou os últimos meses dando indicações firmes que Braga Netto estava escolhido. Em março, disse que o seu vice seria um mineiro — o general nasceu em Belo Horizonte. No mês seguinte, cravou que Braga Netto tinha 90% de chance de ocupar a vaga. Aliás, o general deixou o Ministério da Defesa e se filiou ao PL em março justamente para estar apto juridicamente para a missão.
Desde o início do ano, os líderes do Centrão em conversas privadas não se cansavam se repetir uma espécie de mantra: se Bolsonaro chegar em julho, mês da convenção que consagrará a chapa à presidência, em boa posição nas pesquisas, ele pode escolher o vice que quiser, inclusive um que não agregue um voto sequer, como Braga Netto. Mas se na hora H permanecerem dificuldades na corrida eleitoral, o companheiro de chapa tem que ser alguém que possa ajudar virar o jogo.
E o fato é que Bolsonaro chega a pouco mais de 100 dias da eleição em segundo lugar em todas as pesquisas com boa margem de distância do líder Lula. Pior, com alta rejeição, sobretudo entre as mulheres. E hoje é mais difícil para ele bancar o seu vice sem dar satisfações a ninguém.
A lógica de Tereza Cristina como vice, como quer o Centrão e como pragmaticamente já admite Bolsonaro, é cristalina: ela pode ajudar a diminuir a rejeição do presidente entre as mulheres, bem como reforçar os laços com o agronegócio, inclusive no que diz respeito a doações para a campanha.
Um dos motivos de Bolsonaro querer Braga Netto como vice sempre foi a ideia de que um general barraria qualquer tentativa de golpe contra ele.
Adepto de teorias conspiratórias, o capitão teme um impeachment ou decisão via STF que o tire do poder. Mas agora teria sido convencido de que não precisa de Braga Netto como vice para barrar um golpe. Basta recolocá-lo no Ministério da Defesa.
Em resumo, o fato é que a escolha do vice, que era dada como definida, está em aberto de novo.